Nós que aqui estamos por vós festejamos (PARTE 2)

A primeira parte pode ser vista aqui.

Abaixo, a continuação da história de Rogério Garcia, personagem do LARP “Nós que aqui estamos por vós festejamos”, organizado pelo grupo Caixa dos Mistérios e situado no cenário de Geist: Os Devoradores de Pecados. Rogério é um “Devorador de Pecados”, um humano que foi ressuscitado e ganhou poderes graças a um acordo com um “Geist”, um espírito que desistiu da própria identidade.

Jane não queria se fundir comigo. Ela tinha sido morta pelo próprio pai, se vingou, mas isso não a satisfez. O novo alvo era outro homem, que também agredia a própria filha. Ele também era aquele que tinha raiva de mim por eu ter parado de fazer a comunicação com a esposa morta dele.

Aquele homem tentou me matar, mas acabou morto por mim. Jane apareceu quando estávamos caindo no chão. Ele, por causa da facada no pescoço; eu, por causa do raio que me atingiu. O raio desorientou Jane, e, por isso, ela entrou no corpo errado, e acabou se tornando o “meu” Geist.

Depois de ter me trazido de volta, ela ficou me pressionando, dizendo que eu tinha tentado matar minha filha. “Nunca me casei. E, se alguma das minhas antigas namoradas teve filha, ela não me contou”, eu disse. Naquele momento, eu não poderia mentir nem se eu quisesse. Levou um tempo, mas ela acreditou.

Personagem de LARP com ferimentos no queixo e no pescoço.
Jane e as marcas da morte. Crédito: imagem criada a partir da foto de Cachu Tzimisce.

Uma voz falando na sua cabeça, lembrando você constantemente do crime que cometeu: era a punição que Jane tinha escolhido para aquele assassino. Entretanto, ela é parte de mim agora. O controle do corpo ainda é meu, e o Geist é uma espécie de co-piloto. Andar, falar, faço isso sem problemas. Entretanto, só posso usar os poderes se Jane consentir.

Essa entidade também pode assumir o controle do meu corpo se eu deixa-la fazer isso, se eu desmaiar ou se minha energia estiver muito baixa. Ela age muito, pensa pouco e me acusa de fazer o contrário. Discutimos bastante por causa disso. Às vezes, finjo que estou falando no celular enquanto converso com ela. Assim, ninguém vai achar que sou louco.

RESPONSABILIDADES

Arranjei um mentor, outro “Devorador de Pecados”. Ele me ajudou a lidar com meus novos poderes e com a minha… hóspede permanente. Ele era um “Guardião do Portal”, protegia o equilíbrio entre o mundo dos vivos e o dos mortos. Esse trabalho envolve, por exemplo, impedir que fantasmas assombrem pessoas, assim como impedir médiuns de contatarem espíritos.

Alguns Devoradores formam grupos, as “krewes”. A de Piracicaba estava precisando de novos membros, e meu mestre ficou feliz em me colocar lá, assim como eu fiquei feliz em ajudar a manter o equilíbrio entre os dois mundos. Porém, essa felicidade durou pouco.

Sempre houve muitos seres dispostos a violar o equilíbrio. Eliminamos alguns deles, e eles eliminaram alguns de nós. No fim, meu mentor e eu fomos os únicos sobreviventes da krewe de Piracicaba. Quando eu achei que as coisas não poderiam piorar, ele revelou o maior dever da nossa krewe.

Há muito tempo, espíritos malignos e poderosos tinham sido mandados para uma “dimensão-prisão”. O portal para lá ficava dentro da sede da nossa krewe. Para mantê-lo fechado, era necessário que, a cada 50 anos, um Devorador se sacrificasse num ritual.

Segundo meu mentor, houve uma ocasião na qual alguns espíritos escaparam porque o ritual não tinha sido feito há tempo. Muitas mortes aconteceram até aqueles espíritos serem recapturados. O ritual precisava acontecer. Meu mestre disse que o executaria e para eu fazer o mesmo daqui a 50 anos. Eu também deveria reconstruir a krewe, pois o ritual seria novamente necessário daqui a 100 anos e também daqui a 150, 200…

Faz uma semana que meu mentor morreu. Ainda estou tentando descobrir como aconteceu, mas esse não é o maior problema. O tempo está acabando. Contudo, mesmo que eu faça o ritual, quem fará daqui a 50 anos?

A história ainda não acabou…

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