Nós que aqui estamos por vós festejamos (PARTE 1)

“Geist: Os Devoradores de Pecados” faz parte das “Crônicas das Trevas”, histórias nas quais seres sobrenaturais sobrevivem num mundo caótico e violento. “Geist”, assim como outros cenários das “Crônicas”, serve de inspiração para sessões de LARP e de RPG.

Em “Geist”, os protagonistas são humanos que morreram, mas foram ressuscitados por meio de um acordo com um Geist, um espírito que desistiu da própria identidade. O acordo faz o humano e o Geist tornarem-se um só. O humano ganha poderes, tornando-se um Devorador de Pecados”, mas é obrigado a interagir com os mortos,.

No último dia 29, aconteceu o LARP “Nós que aqui estamos por vós festejamos”, centrado no cenário de “Geist” e organizado pelo grupo “Caixa dos Mistérios”. A sessão foi realizada na loja Terra Magic, em São Paulo – SP. Os acontecimentos desse Live Action serão contados do ponto de vista do personagem Rogério Garcia, um dos “Devoradores de Pecados”.

A foto mostra uma pessoa vestida para um LARP de Geist e, ao lado dele, a imagem de um fantasma.
Rogério Garcia, personagem do LARP “Nós que aqui estamos por vós festejamos”. Crédito: imagem criada a partir da foto de Jorge D’Ângelo. 

Meu amigo. Meu irmão de armas. Meu mentor. Ele está morto. Ele deveria ter feito algo hoje. Algo importante. Na verdade, eu também, mas só daqui a 50 anos. Entretanto, ele morreu. 

Estou me precipitando. Aconteceu muita coisa hoje e, por isso, não estou raciocinando direito. Melhor começar do começo. Já faz algum tempo que me tornei um “Devorador de Pecados”. Acho que tive sorte de já conhecer o sobrenatural antes de isso acontecer. A maioria não suporta o choque.

Eu era um médium. Os espíritos vinham até mim e me usavam como intermediário para se comunicarem. Naquela época, não sabia o porquê, mas não os deixava entrar no meu corpo. Eu apenas os ouvia e repassava o recado. Alguns me chamavam de farsante, mas eu não ligava. Afinal, nunca tinha cobrado por isso. Trabalhava com computadores e só ajudava os espíritos por achar que era o certo.

Realmente achava que fazia o bem. Algumas pessoas e espíritos se conformavam com as mensagens trocadas e seguiam adiante Infelizmente, nem todos eram assim. Um homem não se conformava pelo fato de a esposa estar morta. Ele sempre me procurava para poder conversar com ela. Acho que, se eu me visse através dos olhos dele, veria um celular.

Foi então que percebi: ela ainda não tinha ido para onde deveria ir porque ele continuava chamando-a. Ele ainda a prendia aqui. Tentei explicar isso. Ela também. Ele não aceitou e ficou com raiva. Raiva que só aumentou depois de eu dizer para ele não me procurar mais.

Ele atacou. Ainda me lembro da lâmina indo na minha direção. E do sangue. Muito sangue jorrando. O sangue dele. A diferença de força entre nós era ínfima, mas o bastante para eu deter o ataque, pegar a faca e cortar a garganta dele. Não que eu tivesse a intenção de acertar a jugular… só dei por mim quando ele já estava caído.

Não fui atingido pela lâmina, mas ela acabou me matando. A briga tinha durado vários minutos. Só percebi a chuva e os raios quando senti a descarga elétrica. Eu tinha morrido. Aí, aquela voz de menina zangada ficou perguntando se eu queria voltar. “Como se isso fosse possível”, eu disse. Ela insistiu e eu disse: “Certo, me traz de volta”.

Só tinha dito aquilo para fazê-la parar de falar. Não adiantou muito, até hoje ela não calou a boca. Pelo menos, ela cumpriu a promessa. A entidade se apresenta como Jane, embora eu me recuse a chama-la assim. Meu coração tinha voltado a bater. A entidade, a partir daquele momento, era parte de mim.

Aqui está a continuação.

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