Sheriff of Nottingham: ou você se corrompe, ou se omite, ou confisca a mercadoria – ENTREVISTA

No jogo de tabuleiro “Sheriff of Nottingham”, comerciantes tentam passar mercadorias pela fronteira e o Xerife fiscaliza o lugar. Ele pode barrar a entrada de mercadorias ilegais ou receber um “agrado” para deixar que elas passem. Numa partida, os jogadores se revezam nos papéis de Xerife e comerciantes. O Fantasia em Jogo entrevistou um dos criadores desse boardgame, Sérgio Halaban:

Fantasia em Jogo – Como foi que você teve a ideia para criar o jogo?
Sérgio Halaban – Eu o fiz em parceria com o André Zatz. A gente estava conversando durante um almoço e viu uma matéria sobre a questão de contrabando entre o Brasil e o Paraguai, coisas da Ponte da Amizade e tudo o mais. Aí, a gente ficou pensando: “Como é que um cara que está na fronteira…. se tanta gente passa por lá, como ele escolhe quem ele vai revistar e quem vai deixar passar? Qual é o critério, se ele não tem nenhuma informação privilegiada?”. A partir daí, a gente começou a desenvolver o conceito do jogo.

O autor de Sheriff of Nottingham segura um exemplar do jogo de tabuleiro.
Sérgio Halaban durante a Brasil Game Show 2016.

FJ – Vamos supor que vou jogar Sheriff of Nottingham agora. O que preciso fazer?
SH – O objetivo é ganhar mais dinheiro no final. Você tem três formas de fazer isso: passando mercadorias legais e vendendo essas mercadorias, que são galinhas, maçãs, queijos e pães; você também pode passar contrabandos, não ser revistado e vender esses contrabandos; e você pode, seja no papel de Xerife, seja no papel de mercador, entrar numa negociação com a pessoa que está jogando num papel contrário ao seu. Você pode conseguir passar mercadorias pagando menos do que seria a multa dela ou você revista alguém (fazendo o papel de Xerife) e confisca a mercadoria do outro jogador, e ele tem que pagar uma multa para você.

FJ – O jogo foi inspirado em histórias que acontecem aqui na América do Sul. Por que o nome está em inglês?
SH – Porque o jogo foi publicado inicialmente nos EUA. A inspiração inicial é uma situação que não acontece só na América do Sul. (No jogo), você pode estar no papel de fiscal da fronteira e tentar identificar quem está passando contrabando; estar no papel da pessoa atravessando a fronteira, passar mercadorias legais para atrair a atenção do Xerife e ganhar uma recompensa*; ou tentar passar contrabando para ganhar mais dinheiro. É uma situação do mundo, da vida. Fazer um jogo explorando isso pode gerar um problema porque é politicamente muito incorreto. A ideia foi criar um cenário de fantasia no qual você pudesse inserir essa mecânica de jogo e que todo mundo pudesse se divertir brincando. Por isso, a escolha do Sheriff of Nottingham. Você, fazendo o papel de Xerife, é corrupto e está querendo um contrabandista que te pague para deixar o produto passar. O jogo foi publicado primeiro nos EUA e esse tema foi determinado em conjunto com a editora americana. Depois, foi publicado no Brasil. Ele teve versões brasileiras antes, mas esta versão final do Sheriff of Nottingham foi publicada nos EUA.

*No jogo, o Xerife deve pagar uma multa se revistar um comerciante, mas encontrar apenas mercadorias legais.

FJ – Você já enfrentou protestos ou alguma oposição por causa do tema do jogo?
SH – (As versões anteriores) têm uma história de complicação nesse sentido, mas ela é bem antiga, nem cabe comentar isso agora. O Sheriff nunca teve problema nenhum. As pessoas entendem que é uma brincadeira.

Mais informações sobre o jogo estão disponíveis aqui. A entrevista foi realizada durante a Brasil Game Show.

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